Passam hoje precisamente trinta e oito (38) anos que vinte e sete (27) oficiais das Forças Armadas portuguesas estiveram nos escritórios de um notário de Lisboa a registarem a fundação de uma nova associação cultural e cívica.
Nascia assim a Associação 25 de Abril (A25A), imediatamente aberta a todos os cidadãos portugueses que se identificassem com os seus estatutos.
Permitam-me a evocação de dois ou três pormenores desse processo.
É certo que inicialmente existiu alguma discriminação que podemos classificar de elitista e corporativista.
Por razões que só se compreendem se recuarmos a esses tempos, o universo dos Sócios fundadores só foi aberto a oficiais dos quadros permanentes, ficando para os outros militares dos mesmos quadros permanentes o universo dos Sócios efectivos (qualidade também pertencente aos sócios fundadores).
Para os demais cidadãos portugueses – não militares – foi aberta a hipótese de uma outra categoria de associado – Apoiante – criada para garantir um dos principais objectivos que me levaram a ser o principal dinamizador da A25A (por isso, fui o presidente da sua Comissão Instaladora e sou o seu sócio número 1), ou seja a criação de um espaço de convívio e intercâmbio de ideias para militares e civis.
Felizmente que os mais abertos, menos corporativistas e civilistas, conseguiram obter, com alguma rapidez, o objectivo pretendido: na primeira oportunidade, foi aprovada a alteração dos estatutos, ficando aberta a possibilidade de todos os cidadãos portugueses, independentemente de serem ou não militares, adquirirem o estatuto de sócios efectivos.
Para completar a total abertura a todos os cidadãos que se consideram defensores dos ideais de Abril – a razão de ser da existência da A25A -, ainda que só passado algum tempo, foi estabelecido estatutariamente que a qualidade de sócio efectivo pode ser adquirida por qualquer cidadão, qualquer que seja a sua nacionalidade.
Passam hoje 38 anos, sobre a nossa fundação!
Ainda que suspeito, pois em todo esse período estive como seu responsável máximo, não hesito em afirmar que:
Temos cumprido com o nosso dever! Temos cumprido, dentro dos nossos estatutos, os nossos objectivos, de defender e consolidar os valores de Abril, na nossa sociedade, contribuindo para manter o Estado livre, democrático, de direito e em paz, nascido com o 25 de Abril de 1974, epopeia em que a esmagadora maioria dos nossos sócios fundadores participou! Nem sempre satisfeitos com a evolução da situação do país, preocupados com o retrocesso de muitos avanços no campo da justiça social, mas satisfeitos por constatar que foram esses mesmos valores de Abril que nos permitiram evitar o descalabro total e a recuperação protagonizada.
Um “pormenor” considero ser de destacar: na Associação 25 de Abril só estão os que desejam cá estar, mas, tão importante como isso, estão todos os que desejam cá estar! E porque a enorme maioria dos Militares de Abril – independentemente das posições pessoais que assumiram durante o processo revolucionário, quantas vezes divergentes – cá estão (90% a 95%), podemos afirmar que “também aqui, o 25 de Abril venceu”!
É com uma enorme convicção de que Abril continuará presente na sociedade portuguesa, de que Abril será o futuro, que aqui evocamos os nossos 38 anos e nos felicitamos a todos – ao olharmos para trás, sentimos que valeu a pena, sentimo-nos realizados!
Por isso – ao mesmo tempo que evocamos todos os nossos associados já falecidos, militares ou civis, com a firme promessa de que tudo faremos para continuar a obra em que também participaram – formulamos votos de que a Associação 25 de Abril continue, forte e actuante, na defesa dos seus valores, por muitos mais anos, para além da existência física dos seus fundadores!
Lisboa, 21 de Outubro de 2020
Um grande abraço de Abril
Vasco Lourenço